terça-feira, maio 22, 2007

Elo

Eu já falei de V. aqui algumas vezes. Se tem uma pessoa nesse mundo que tem um elo extremamente especial comigo é ela. Crescemos juntas e, embora ela seja 8 anos mais nova, temos uma espécie de sexto sentido uma com a outra que só nós duas sabemos explicar! !

V. é uma daquelas pessoas que sabe que pode contar comigo. Assim: quando ela precisar mesmo. Se ela me ligar de madrugada, ela sabe que eu fico acordada pra ouví-la, sem o menor problema de não ter as minhas horinhas de sono! Somos primas e a casa da vó fez com que passássemos parte da infância grudadas à tarde!

Sim, são mundos diferentes. Ela tem 13 anos e eu 21, mas, mesmo assim, parece que quando estamos juntas a idade se equilibra. Somos bem parecidas em muitas coisas. Vejo nela dúvidas e ações que eu tinha quando estava com 13 anos. E, na verdade, tem coisas que eu não vivi ainda e que são questões duplas. É um carinho enorme.*

Não dá pra explicar o que realmente acontece porque é algo abstrato. Completamente. V. me conta tudo, talvez coisas até que a mãe dela não fica sabendo. Ela me liga quando briga com os pais, me ligou quando deu o primeiro beijo, quando tem uma festa e precisa se arrumar, quando lembra de mim e quer apenas dar um oi, quando tá doente...

Foi por isso que eu resolvi escrever isso. Porque ela me mandou uma mensagem no celular dizendo que tá doente e que não foi pra escola, que precisava tanto falar comigo! Foi assim mesmo que ela escreveu!

Se eu fosse espírita ou qualquer coisa do tipo, diria que eu e V. já fomos próximas em vidas passadas. Mas meu ceticismo me leva a crer que não é isso. Só que meu ceticismo é tão grande às vezes que eu questiono o fato de eu ser cética e aí passa pela minha cabeça a idéia de termos tido ligações em vidas passadas. Talvez tenhamos sido duas larvas de goiaba amigas.

Rá, sim, se é pra ser espírita, que eu tenha pelo menos senso de humor. Não preciso acreditar que eu e ela fomos irmãs. Me contento com a idéia de que fomos larvas de goiaba branca. Mas um dia alguém veio e nos comeu. Depois de milhares de anos, entre o umbral, o hospital e todas essas coisas que os espíritas acreditam, nós viramos primas.

Me desculpe se algum espírita estiver lendo o texto e achar que eu sou "contra" os espíritas. Não, na verdade eu não sou contra nenhuma religião. Nem sou tão cética assim. É que lendo Dostoievski e Drummond esses dias eu fiquei com o humor meio obscuro.

Eu tenho milhões de coisas pra contar aqui, mas o tempo e a vontade andam pequeninos.**
Mas, enfim, falar sobre V. é como falar daquela charada do Brás Cubas: decifra-me ou devoro-te! E eu fui devorada, porque eu não sei explicar essa ligação entre a gente. E algumas coisas ficam melhor sem explicação, sem grandes buscas espirituais e sem questões metafísicas. Elas apenas existem.

* todo mundo aqui já sabe que eu AMO crianças.
** eu tenho milhares de estórias novas...só que eu não achei uma forma bonitinha de contá-las. Nem precisa ser bonitinha. É que eu não achei uma forma de contá-las mesmo. Tá sendo mais legal ler Dostoievski. Eu prometo que irei atualizar com coisas mais interessantes

Um comentário:

Srta. Smilla disse...

Já disse um amigo meu (que talvez vc conheça, chamado Pessoa) que a grande metafísica das coisas é elas não terem metafísica alguma.E é realmente assim que as coisas são, mas nossas cabecinhas fantasiosas requerem explicações floreadas para coisas tão bonitas e que realmente nem precisam de explicação, como a sua relação com V.

Beijos e até um dia, muito tempo depois, quando "nossa" greve acabar (ah, mas se vocês forem estudar alemão eu também vou!)