quinta-feira, agosto 09, 2007

MAGMA

Este não é um texto sobre matéria fundida, muito menos sobre a atividade tectônica e suas implicações. É que andei lendo Magma do João Guimarães Rosa e estou extremamente encantada. Os Hai-Kais. Imensidão. Egoísmo. Infinito.Turbulência. Eu andei com ele pela Gruta do Maquiné. Juro. Mas no final eu me deparei com o enorme olho frio me vigiando. Resolvi ver o Luar na Mata, porque lá as corujas chegavam vestidas de seda. E, quando me cansei, fui experimentar o Desterro. Então, vi o homem que ia já longe, como quem só tem costas. Aí Riqueza. Distância sentimental."Mesmo a sonhar contigo, só consigo que me ames noutro sonho dentro do meu sonho primitivo". Música de Schubert. Ausência, como a daqueles outros poetas que eu sempre gosto tanto. Ausência minha, deles. Nossa. Paraíso filosófico."Como se os dedos mergulhassem a tranlucidez de uma água, esculpindo invisíveis e impossíveis formas novas". E termino diferente. Embora bonita a Consciência Cósmica. Prefiro encerrar a viagem na Primavera da Serra:


Claridade quente da manhã vaidosa.
O sol deve ter posto lente nova,
e areou todas as manchas,
para esperdiçar a luz.

Dez esquadrilhas de periquitos verdes
receberam ordem de partida,
deixando para as araras cor de fogo,
o pequizeiro morto.
E a árvore, esgalhada e seca, se faz verde,
vermelha e castanha, entre os mochoqueiros,
braúnas jatobás e imbaúbas do morro,
na paisagem que um pintor daltônico
pincelou no dorso de um camaleão.

E o lombo da serra é tão bonito e claro,
que até uma coruja,
tonta e míope na luz,
com grandes óculos redondos,
fica trepada no cupim, o dia inteiro,
imóvel e encolhida, admirando as cores,
fatigada, talvez, de tanta erudição....


* Agradeço ao G. o empréstimo desse livro de esplêndida poesia!

5 comentários:

Glauber disse...

Bonitas cenas que colocastes neste blog. Mas eu acredito que não sou a pessoa mais indicada para comentar coisas tão POÉTICAS que escrevestes. Eu sou a dureza da pedra, da prosódia sem vida, sem sal. Tenho a frieza de um forno de pedra, que não se usa faz tempo...

Sem toadas poéticas: repito, bonito, poético. REFLEXIVO!

Felipe disse...

Hai kais são mto interessantes, quinta eu vi na aula de lit. infantil alguns... como 3 versos tão pequeninos conseguem mostrar tantas coisas???


Bjos!!

Obs: não estou ausente, vc é q está!

D ... disse...

ah... essa gente inspirada. Toda bonita, tu!

Anderson Lucarezi disse...

Puxa, Gabi, que bom que há alguém pra difundir o outro lado da obra do G. Rosa. Magma sempre me interessou. Não li quase nada mas achei mto bacana, mesmo ele tendo dito que nunca mais faria poemas.
Tem um outro livro, "Ave Palavra", q, entre outras coisas, contém poemas.
um beijo nessa moça linda e diva q vc é,

Luca!

Anônimo disse...

Foi o Magma que alisou os seus cabelos?

"G."