Ninguém fala sobre as bolhas de sabão. Isso é um absurdo! Como elas podem ser esquecidas assim? Tão presentes na nossa infância e com o passar do tempo se perdem. Talvez seja intrínseco delas, que se formam cristalinas, de um rumo incerto, depois perdem-se de vista ou estouram deixando uma círculo de espuma.
Há quem diga que elas são apenas dois filmes compostos por moléculas de sabão com uma camada de água no interior, além do ar. Está enganado quem diz isso. Não por errar a composição, é claro, mas por esquecer da outra propriedade das bolhas. A magia e a graciosidade das bolhas de sabão com suas cores variadas. Uma espécie de espelho que não é espelho, mas nos permite enxergar como tal. E quem nunca, quando criança, viu dentro de uma bolha de sabão alguma cena acontecendo?
Lygia Fagundes Telles já falava da imprecisão das bolhas nem sólidas nem líquidas, nem realidade nem sonho. Mais bonito do que isso, Lygia sabia fazer da bolha de sabão um conto de amor: A Estrutura da Bolha de Sabão.
Aliás, Lygia falava - como ninguém - da cavilosidade dos gatos. Creio que as bolhas de sabão também têm um pouco de cavilosas. Não que elas sejam cavilosas por natureza, mas adquirem essa característica assim que postas ao léu, sinas de bolhas, prontas a estourar, quebrando sonhos, pesadelos, seja lá o que for.
E as estruturas das bolhas de sabão são nossas. Quando misturamos a água e o sabão, misturamos as nossas vidas. Movimento sôfrego, ao mesmo tempo feliz. Tudo depende do seu estado de espírito. Ali, diante do copo.
Quando somos criança os movimentos são menos tenazes. É tudo diversão. Não. Talvez a inocência faça dos movimentos algo mais profundo do que podemos imaginar. E as crianças têm também seus momentos profundos, de consciência mundana, às vezes metafísica.
Nós, embora saibamos, por vezes, criar coisas belas, queremos transformar as bolhas em algo filosófico. Uma mebrana para uma realidade ficcional. Mas nos esquecemos que elas estouram.
Eu, por exemplo, com a minha mania de tentar modificar o significado das coisas, em busca de algo que pareça mais polido, transformo tudo em bolha de sabão. E depois as estouro, logicamente. Quando elas não me convêm. É fato. É força. Segue a lei dos meus instintos.
*texto bolha de sabão....Vai estourar! Resta saber se ficará alguma espuma ao redor!